"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara."
Sem dúvida foi das melhores leituras que fiz este ano. Não foi à toa que Saramago ganhou um prémio Nobel. É uma leitura agradável? Não, é uma leitura emocionalmente difícil. Ele explora até ao limite a degradação humana, num mundo sem leis o ser humano vira primitivo. Aquela parte da igreja foi simplesmente sensacional mas como é óbvio não vou dar spoilers. Posso dizer que é uma leitura transformadora, existe uma pessoa antes e outra pessoa depois do livro.
Saramago inicia as suas obras, quase sempre, com uma premissa impossível e depois aprofunda-a. Aqui estamos perante uma epidemia, onde de repente a espécie humana começa a ficar cega, primeiro apenas alguns, mas gradualmente o vírus chega a todos. É designado por "cegueira branca", porque os infetados não ficam a ver tudo preto, mas sim tudo branco. Acompanhamos de perto a vida dos primeiros cegos e sobre a perspetiva deles, vemos (ironicamente) as consequências psicológicas, sociais e políticas na sociedade. Amei o facto de ele não ter dado nome a nenhum personagem, aqui temos a mulher do médico, o médico, o primeiro cego, a rapariga dos óculos escuros, o cão das lágrimas... Pode ser visto como uma alegoria para um mundo onde conseguimos ver, mas na verdade negligenciamos o que está a nossa volta.
Achei a escrita bastante fluída e acessível mas para quem nunca leu nada de Saramago pode estranhar no início. Ele tem uma escrita altamente metafórica e cheia de analogias, sem falar da pontuação (ou na falta dela, no caso) onde o maior desafio é arranjar um momento para parar a leitura.
Super recomendo, acho que todos deveriam ler. É uma leitura que quero reler? Absolutamente não. Nem acho que seja necessário, não é uma leitura que se esqueça. É daquelas que nos toca na alma e ficam connosco para sempre!
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Classificação: ★★★★★
Publicado em 1995 - 310 Páginas
Prémio Nobel da Literatura em 1998
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